Patrono

O Patrono da Escola Sede do Agrupamento de Escolas n.º 1 de Serpa é seguramente o serpense mais ilustre e uma personalidade ímpar no panorama cultural e científico português.

Figura de remome internacional, José Francisco Correia da Serra - o Abade Correia da Serra - nasceu em Serpa no dia 5 de Junho de 1751, vindo a falecer nas Caldas da Rainha a 11 de Setembro de 1823.

Em 1757, com seis anos de idade, foi viver para Itália com os pais, o médico Luís Dias Correia e Francisca Luísa da Serra.

Os seus estudos em Roma tiveram o auxílio do Duque de Lafões, João de Bragança (1719-1806).

Em 1775 ordenou-se presbítero.

Enquanto esteve em Itália relacionou-se com Luís António Verney (1713-1792).

Regressou a Portugal em 29 de Março de 1777.

Encontrou-se novamente em Lisboa com o Duque de Lafões com quem criou a Academia Real das Ciências de Lisboa, em 1779.

Por motivos não totalmente esclarecidos abandonou o país em 1786, indo para França, de onde regressou em 1791.

Em 1797 voltou a emigrar, indo para Inglaterra. Esta segunda emigração foi devida à proteção que deu, nas instalações da Academia, ao médico francês Broussonet, fugido do seu país.

Em Londres foi nomeado Conselheiro da Delegação Portuguesa, mas logo de seguida foi destituído e seguiu para Paris, onde residiu até 1813.

De Paris saiu para os Estados Unidos, onde viveu até 1821 e onde desempenhou o cargo de Ministro Plenipotenciário junto do governo norte-americano.

Regressou a Portugal em 1821 onde veio a ser eleito, em 1822, deputado às Cortes pelo círculo de Beja. 

Tendo viajado por todo o mundo e privado com personalidades de inegável notabilidade, como o presidente norte-americano Thomas Jefferson, os seus estudos, especialmente no campo da Botânica, foram uma referência científica incontornável, colocando-o a par de nomes famosos como Lineu, Candolle ou Brotero.

 

Actividade Científica

O Abade Correia da Serra foi membro das principais instituições científicas da época e procurou sempre que o seu saber estivesse ao serviço do país. Juntamente com o Duque de Lafões foi fundador da Academia Real das Ciências de Lisboa. Foi Secretário da Academia nos seus primeiros anos de actividade e aí desenvolveu uma intensa actividade de organização dos programas e actividades de promoção da investigação científica e de publicação de textos científicos.


Correia da Serra desenvolveu uma actividade assinalável no domínio da investigação botânica. Publicou regularmente em algumas das mais prestigiadas publicações científicas da sua época (italianas, francesas, inglesas e norte-americanas), nomeadamente as seguintes: Philosophical Transactions, da Royal Society; Transactions of Linnean Society; Transactions of the American Philosophical Society; Annales du Muséum; Bulletin de la Société Philomatique; Archives Littéraires de l’Europe; The American Review.


Foi membro da Royal Society e da Linnean Society, membro correspondente da Academia das Ciências de Paris, da Société Philomatique e das Academias de Turim, Florença, Siena, Mantova, Bordéus, Lyon, Marselha e Liège, das Sociedades Agrárias do Piemonte e da Toscânia, da Sociedade de Economia de Valença, e da American Philosophical Society.


Nos períodos em que viveu em França, Inglaterra e Estados Unidos contactou com alguns dos investigadores de maior relevo da época como por exemplo Augustin de Candolle (1778-1841), Lametterie (1743-1817), editor do Journal de Physique, A-L. Millin (1759-1818), editor do Magasin Encyclopédique, Alexander von Humboldt (1769-1859), Antoine-Laurent de Jussieu (1748-1836), e Georges Cuvier (1769-1832). Em virtude destes contactos serviu muitas vezes como intermediário no diálogo entre botânicos de várias nacionalidades. Trocou correspondência com o botânico português Félix Avelar Brotero (1744-1828).


O seu trabalho de investigação na Botânica desenvolveu-se principalmente no domínio da sistemática, nomeadamente na classificação sistemática das espécies vegetais. Os seus métodos de classificação seguiam de perto o método natural, defendido, entre outros, por Joseph Gartner (1732-1791), Michel Adanson (1727-1806) e Antoine-Laurent de Jussieu (1748-1830), tentando aplicar os métodos de anatomia comparada da zoologia à botânica. Procurava estabelecer as semelhanças mais significativas entre as plantas de forma a agrupá-las em famílias, tendo introduzido o conceito de simetria, que viria depois a ser adoptado e desenvolvido por Candolle.


As suas pesquisas em Carpologia, um ramo da botânica então formado, são também de realçar, tendo contribuído,com os seus textos e reflexões, para a discussão que então se processava sobre a importância das características estruturais e funcionais na classificação das plantas.


Realizou ainda investigações no domínio da Geologia, nomeadamente estudando a formação dos solos no Kentucky.
Nos Estados Unidos, ministrou cursos de botânica na American Philosophical Society e foi convidado a ocupar um lugar na Universidade da Pensilvânia, que recusou. Estabeleceu relações de amizade com Thomas Jefferson (1743-1826), a quem visitava regularmente. Na sua mansão Monticello, na Virginia, o antigo presidente norte-americano tinha um quarto permanentemente reservado ao amigo, quarto ainda hoje conhecido como «Abbé Corrêa’s room».

Informações adicionais